Saturday

*Saudade da Chuva.... (26/09/99)

Por causa da profissão do meu marido, minha localização geográfica geralmente indica uma área agrícola e desenvolvida. Nós fomos nos mudando para cidades diferentes em regressão de quantidade de habitantes e progressão de qualidade de vida. Fomos para lugares cada vez mais pequenos e conseqüentemente melhores para viver.

Saímos de Campinas (1 milhão) em 87 e fomos passar uma temporada bucólica em Piracicaba (350 mil). Na época eu detestava o provincianismo da cidade e a sujeira da cana queimada, mas aos poucos fui aprendendo com o piracicabano a ter orgulho da minha caipirice. 'Arco, Tarco e Verva' virou meu livro de bolso....! Comer peixe lá na Rua do Porto (quando ela não estava alagada) era nossa diversão domingueira.

Em 92 sartamos fora de Pira para Saskatoon (150 mil) no Canadá, onde eu aprendi a apreciar a natureza - o verde e o branco, e conviver com dificuldades que antes eu nem imaginava existirem. Me surpreendi como que num lugar onde o gelo cobre a terra por tantos longos meses, pode crescer tanta planta e como o desenvolvimento agrícola chegou tão cedo. No começo do século as planícies canadenses já tinham maquinarias agrícolas pra ajudar as famílias a cuidarem de suas pequenas fazendas de trigo.

Desde 97 que estamos aqui em Davis (50 mil), outro lugar que me surpreendeu pela riqueza agrícola, mesmo estando óbvio que antes do pessoal invadir essa terra em busca de ouro, isso aqui só podia ser um deserto. Os milagres da irrigação! Tudo brotando, verdinho, brilhante, produtivo, sem a ajuda de uma única gota de água vinda do céu. Desde maio que não chove nesta Davis. E os fazendeiros estão frenéticos colhendo tomates.... Um rastro de podridão ácida pelas estradas que cobrem as distâncias entre as fazendas e as canneries. Que saudade que eu tô da chuva!

Uma das nossas professoras vai casar e então estamos fazendo aquelas festas pré-nupciais que as amigas tem obrigação de fazer e a noiva suportar! Aqui se chama Bridal Shower. No Brasa se chama Chá de Cozinha ou Chá de Panela.

O meu Chá de Panela foi diferente porque foi homem também, e todos já chegaram bêbados pra parte que envolvia fazer a noiva e o noivo passarem vergonha. Antes disso passei por todas as humilhações que a minha gravidez permitia, pra ganhar um monte de coisa inútil, que eu nunca usei. Tive que passar por aquela tortura chinesa de adivinhar ou ganhar castigo. Como eu não adivinhei nada, acabei vestida de noiva, com a cara pintada de palhaça, com sutiã e calcinha aparecendo e chapéu de cangaceiro na cabeça. Me levaram pra rua mais movimentada da cidade no sábado - o point, como a campineirada dizia com sotaque caipira disfarçado. Era a Avenida do Taquaral, onde todos os moderninhos da década de 80 se reuniam pra tomar cerveja e paquerar. Eu e o Ursão em cima de uma pick-up, alguém badalando um sino e nos obrigando a beijar de língua na frente da multidão.... Ai, que trauma!! :-)

Mas o Bridal Shower das americanas foi como um passeio pelo céu, comparado com o que as brasileiras fizeram comigo no passado não tão remoto. Todas chegaram no horário (menos a mexicana, que chegou quando a salada já estava murcha) com seus pratinhos de comida, conversaram banalidades, tomaram sodas orgânicas com borbulhas naturais, comeram comidinhas saudáveis sentadinhas nas cadeiras e sofás, escutaram música de elevador, convidaram a noiva a abrir os presentes, dobraram os papeis rasgados com cuidado, aplaudiram a fatiação do bolo e sentaram mais um pouco para cinco dedinhos de prosa chatinha e dai bye bye, see you soon. Eu tava lá, né, tentando animar o papo com o meu charme brasileiro!

Hoje a mexicana que chegou atrasada na festa das americanas fez uma festa na casa dela em Winters. Só foi uma americana, gracasadeus (e foi embora cedo, porque a festa começou com 2hs de atraso e ela tinha outro compromisso). Claro que foi tudo desorganizado e ninguém precisou levar comida. Tinha muito suco verde fluorescente, soda artificial, gelo, salsa caliente e nachos, salpicão de frango, melão e tostadas. Todas as mexicanas falantes, gritonas, escandalosas, alegres, coloridas, simpáticas, de broche de flores e camisinha na lapela dos vestidos. Eu também tava lá, com o broche lubrificado no vestido e muitas vezes boiando nos assuntos que geravam tantas risadas altas, porque quando elas falam muito rápido eu não entendo. Mas eu ria também!! hahaha! Teve brincadeiras, torturas (não tão sofisticadas como as das brasileiras), piadas, tropeços e todo mundo repetindo as fatias generosas de bolo com sorvete. Muitas foram embora e voltaram. É festa que não tem hora pra acabar. Eu fui embora triste dizendo 'adios, hasta la vista!', porque tinha que trabalhar.

Na volta, pela road 32 que é cheia de curvas e ladeada por fazendas e oliveiras, fui olhando tudo a minha volta - as árvores de nozes e pistachios, o milharal seco pra colheita, o curral dos cavalos, as ovelhas do outro lado, um pomar de pêras, muitas flores, e zigzagueando nas curvas pra esquerda e pra direita fui pensando nos valores que eu adquiri na minha jornada campestre de tantos anos e na simplicidade que estou tendo o privilégio de apreciar.

Mas continuo com uma saudade doida da chuva.....

Quando é que vai chover de novo nessa terra???
*Pés nas Nuvens (05/10/99)

Nós somos uma família de massagistas desajeitados e amadores! :-) O marido massageando os pés da esposa. A mãe massageando (e beijando e admirando) os pezinhos do filho, antes de virarem pezões e partirem. Massagens de pescoço, de braços, de costas.... :-) Tudo sem pretensões terapêuticas! Que bom......

Depois da mensagem 'zen' do PauloPetro, me inspirei e fui fazer uma massagem nos meus pés , que fazia tempo que eu não fazia isso com cuidado. Mas tem que usar um creme bem bom e cheiroso e depois colocar meia - e sair pisando em nuvens!! :-)

Eu parei de ter dores nas costas quando deixei de ser magrela e quando parei de estressar pelo futuro. Agora estresso só o 'agora'! :-) E logo vento, pra não acumular nós no pescoço. Tem ajudado. Faz alguns anos que não preciso de quiroprata.

Precisava mesmo dessa massagem nos pés. Os coitados agüentam tanto... Já pensou o peso? a responsabilidade de não deixar o corpão cair?? E correndo pra lá e pra cá o dia inteiro? Hoje à tarde eu andei milhas dentro do playground da minha escola. Amaciando minhas novas botas de jeca-tatu-trabalhadora, estou mentalizando ondas positivas para meus pés não fazerem bolhas. Senão vou ter que voltar pros tamancões ortopédicos... [cloc cloc cloc].. por todo o inverno. Não, meus pés estão cansados, mas estão inteiros.

Estreamos a segunda-feira de estação nova. Grama plantada fresca no playground e chão forrado de folhas amarelas. Alguém me disse olhando pras arvores e abraçando meus ombros :

- Que coisa mais bonita essa natureza...

A rotina não muda, mas a paisagem encanta os olhos. Outubro é realmente meu mês favorito! Ontem cortei umas abóboras em guirlanda, que as crianças adoram colorir. E fiz tinta laranja pra pintura. E massinha de modelar cor de abobora com purpurina brilhosa. Girei um fantasminha feito improvisadamente com um filtro de café, preso numa cordinha... BOOOOO....BOOOOO..... As crianças correram pela sala às gargalhadas!! :-)

Um ventinho sopra e vem uma chuva de folhinhas douradas. Uma criança sai gritando:

- o inverno está chegando! o inverno está chegando!

Vamos com calma! Por enquanto estou curtindo o Outono. :-)

"And she gets the urges for going
when the meadow grass is turning brown
and summertime is falling down.."
(joni M.)
*Viva Los Mariachis! (10/10/99)

Fomos ao casamento de uma amiga em Salinas - a terra do Nobel Steinbeck, das alfaces e do morango. Planejávamos dormir por lá e passear em Monterey no domingo. Eu sou apaixonada pelo mar. A visão de toda aquela água, o cheiro, o vento, os sons... Tudo isso faz um bem enorme pra minha alma. Deve ser seqüelas da minha descendência portuguesa. Estava feliz da vida que iria ver o oceano, mas fui cortada do meu delírio marítimo pelo Ursão, que avisou:

-Vou ter que trabalhar no domingo. O Tony resolver colher os tomates do nosso campo e não tem jeito de eu não ir...

Que raiva!

Saímos de Davis quando o casamento estava começando em Salinas. Sabíamos que iríamos chegar um pouco atrasados, mas tudo de errado resolveu acontecer e saímos duas horas depois do planejado. Foram três horas de ursão dirigindo e eu chorando porque nessas horas acho que ele faz tudo de propósito e entro numa neuras paranóica... Desperdício de energia, porque como sempre não é nada disso......

- Você esta muito enganada, Fê.... não tem idéia de quanto!

Dai me acalmo e chego de cara inchada e olhos vermelhos para a festa. Perdemos a cerimônia religiosa de 2h30minutos!!! não somos sortudos??? E como o noivo é de descendência mexicana, a missa interminável foi toda em espanhol. Ufa, às vezes há males que vem pra o bem..... :-)

A festa começou atrasada com a entrada triunfal dos Mariachis. Nem eu entendi por que fiquei tão emocionada.... Nunca tinha visto um deles ao vivo. Só em filmes no cinema e na tv. E como nunca fui ao México também (nem a Cancun, vê só que triste!), a visão dos Mariachis ali pertinho, tocando e cantando tão alegremente me deu arrepios de emoção e felicidade!

De roupas típicas, Los Mariachis de Salinas eram três violinos, dois trompetes, um violão gigante e dois pequenos. Um grupo animado, que tocava e cantava sem microfones e sem nenhuma ajuda eletrônica. Tocaram por todo o jantar no palco do salão e depois foram tocando de mesa em mesa, atendendo pedidos ( - será que eles tocam 'i can't get no satisfaction'? o ursão perguntou). Eu tirei muitas fotos deles, porque pra mim eles são algo especial.... Não sei mesmo explicar por que.

Depois do jantar entrou no palco uma banda comum e deram seqüência às tradições de jogos nupciais mexicanos - alguns diferentes, outros parecidos com os que fazemos nas nossas festas. Tocaram muita rumbia, merengue, bolero... bailaram, bailaram. Nós esperávamos pelo bolo para irmos embora e no final desistimos. Concluímos que o bolo iria ser a última parte do ritual das bodas e resolvemos pegar a estrada.

Voltei pra casa, numa viagem cansativa, sem ver o mar. Mas ganhei o presente dos Mariachis e sua musica alegre e festiva! Bien Chispeantes!! :-)


"Soy marino y vivo errante
cruzo por los siete mares
y como soy navegante
vivo entre las tempestades
desafiando los peligros
que me dan los siete mares."


Friday

*Burp...! ZZZz...! (01/08/99)

Torradas com queijo, pudim de manga, brownie fat-free, pizza de alcachofra, salada de rúcula, italian soda de melão, french soda de boysberry, sushi, peito de peru com bacon, risoto com ervilhas e queijo garlico, pudim de pão, torta de blueberry, bolinhas de carne com hortelã, peixe-espada no limão e vinho, apricots frescos, suco de cranberries com água Tonica, bagel de frutas com mel, café-com-leite desnatado, tomates com mussarela, água mineral.......

Burp...!

Revista Elle, MTV, Dirty Harry, Fargo, Jerry Lewis e Dean Martin na cadeira de barbeiro, Gary Grant e Audrey Hepburn na Europa, Rising Arizona (Coen's bro again!), Donna Summer, terremoto em Nevada, Richard Gere em 88, Martha Stewart X Sandra Bernard, mulheres no Rock'n'Roll, efeitos especiais no Star Wars, Ben Stiller patético, mais uma história de Vietnã, the weather in northern california, crimes da máfia, a polemica dos quadrinhos 'racistas' do Aaron McGruder, Pernalonga detonando o Patolino, entrevistas em 'Time Line' com Nicole Kidman, Larry King com John Kennedy Jr, O Exorcista, Olivia Newton-John em Reno, colar de brilhantes por $19,99, Fried Green Tomatoes, teenagers põem fogo em casas em Stockton, karaokê nas Bahamas........

ZZZz...!

*Monday, Monday..So Good To Me! (26/07/99)

Nesta segundona, estou aqui me esforçando pra pegar no tranco.... Tá duro.... ! Como a primeira msg que li hoje foi a do Moa, vou imitá-lo descaradamente na minha narrativa matinal.... :-)

Tive um final de semana bom, mas cansativo. Sábado, fui pra San Francisco levar uma amiga que nunca tinha ido lá. Fizemos aquelas peregrinações turísticas, que me deixam cansada e irritada..

*Union Square - cheia de gente. Valeu por termos ido à Neiwman Marcus e babado em cima das jaquetas de $5,000 do Versace, dos vestidos da Channel e dos sapatos Prada! :-) Coisa de turista pobre e brega, mas ficamos felizes! :-)

*Pier 39 no The Embarcadero, cheio de gente também, um horror.... A única coisa legal de lá é a paisagem de cartão postal, com Alcatraz e Bay Bridge.

*Golden Gate Bridge - perdi a minha paciência pra estacionar lá... Ugh! Mas a paisagem também é linda. O duro é conseguir domar o vento e agüentar a multidão de japoneses tirando fotinhas! :-)

*North Beach/Chinatown/Haight-Ashbury/Castro Street - muita gente, muitos carros e muitos mendigos (que parecem felizes com seus cachorros de bandanas, seus stereos e seus zilhões de quinquilharias abarrotados nos carrinhos de supermercado.!). Na Castro fiz compras na Body Shop e ganhei mil dicas de beleza de um gurizinho super lindo, que me ensinou a usar um produto novo e descolou uns óleos de gerânio por metade do preço...! Também encaroçamos numas lojinhas bem bacanas, que me fizeram esquecer da breguice do Pier! :-)

*Sem querer, entrei no zig-zag maluco da Lombard Street... Juro que quase entrei em pânico! Ai, mas a minha amiga amou descer a rua mais tortuosa do mundo... Que susto!

*também sem querer (peguei o lado errado da Fulton Street), paramos numa praia linda.... A Ocean Beach! Ter assistido o por do sol na areia fofinha, ouvindo e cheirando o mar já valeu o passeio. Eu tenho uma fascinação pelo mar. Fico como que encantada só de estar parada, olhando pra ele. Mas tava difícil de ficar lá, porque estava um verdadeiro 'GELO', (hihihi!) e nós estávamos só de casaco jeans....

No domingo fiz supermercado, lavei uma tonelada de roupa, boiei na piscina, fui tomar sorvete e browsear nas lojas de livros e discos e trabalhei . Hoje começo a semana com aquela cara de esbagaçada..... :-) Nem meu creminho rejuvenescedor deu um jeito nas minhas olheiras inchadas!! :-) Eita nóis.... :-)

*Picking him up!

Quinta-Feira, 22 de Julho de 1999.

São 3:30pm e minha companheira de trabalho me diz:

- Vai pro aeroporto buscar seu marido, muchacha! Não se preocupe! Eu cuido de tudo por aqui.!

Eu vou... contente e voando. O Ursão vai chegar em Sacramento às 4:30pm, vindo no pinga-pinga Toronto-Detroit-St-Luis-SanDiego....

Pego a 113, pra chegar mais rápido. Checo a gasosa....Dá pra chegar! Checo o horário...3:55pm.... Ligo o rádio.... George Harrison cantando..


My sweet lord
Oh, my lord
my sweet lord
oh, my lord


(Woodland) 10 miles


Estou voando no meu carrinho de quatro marchas.... Um mustang veRde me segura..... - Sai da frente seu redneck!!! Go! go! go! Eu piso no acelerador e passo pela direita. Chego em Woodland em tempo recorde!


I really want to see you
I really want to be with you
Really want to be with you, lord
But it takes so long, my lord (hallelujah!)


Voando, voando e nem sei qual é a companhia que esta trazendo o Ursão de volta pra casa.... - Será que eu acho ele lá? E se desencontrar?? Passo a entrada da I5....Faço um retorno endoidecido....

(Sacramento - I5) 2/3 miles


My sweet lord (hallelujah!)
Oh, my lord (hallelujah!)
my sweet lord (hallelujah!)
oh, my lord (hallelujah!)



Entro na I5, piso pra 80miles/h.... Um vento... um calor.... Passando pelos campos de arroz e de tomate..... Muitas sementinhas de alguma coisa batem no meu rosto.... Corro muito e checo o relógio.....

I really want to see you
I really want to be with you
Really want to be with you, lord
But it takes so long, my lord (hallelujah!)



Passo uma ponte enorme - Sacramento River. Há muitas flores na ilha da estrada. O verde dos campos está tão brilhante. Meu cabelo soltou e esta voando por todo lado. - Ah, vai ser uma surpresona! Será que o avião chega às 4:30pm mesmo?

(Sacramento International Airport) 1/2 miles


My sweet lord (hare krishna)
Oh, my lord (hare hare)
my sweet lord (hare krishna)
oh, my lord (hare hare)


Entro no aeroporto sem nem prestar atenção no limite de velocidade.... - Será terminal B ou A? ah, vai em qualquer um... vou parar no meio...!! Estaciono e corro para o terminal... Será que o avião chegou? Será que vou encontrar o Ursão??

Entro no saguão do Aeroporto Internacional de Sacramento e imediatamente vejo o trio - Michael, Malcolm e Ursão...

Abraços, abraços (saudades!) e beijos !!!!!!!!

The End

*La Sorpresa de Bertha! (18/07/99)

Tive um sábado diferente. Porque o Ursão está viajando e então fui convidada pela minha colega de trabalho, a Rosalba, para uma festa hawaiiana de aniversário mexicano! Eu fui, porque ela me convidou com tanta alegria que não pude dizer não. Além do mais minha outra opção de lazer era boiar na piscina, de novo, e então optei pela novidade!

Me arrumei rapidinho, sem requintes, com um vestido preto no meu jeitão minimalista ( mas coloquei uns brincos de feira de antiguidades que tenho...! exagerei!!) e esperei pela minha amiga, que chegou toda sexy de sarongue curto e tamancos de Carmem Miranda!

Ela foi dirigindo até Winters - uma das cidades-gueto dos mexicanos, onde a festa iria acontecer. Lá encontramos com mais três irmãs dela, nos aboletamos numa Van bacanosa e fomos, matracando e rindo, para 'la fiesta'. Eu de preto e as irmãs Rosalba, San Joana, Irene e Mari todas coloridas, de colares, anéis, pulseiras de ouro, maquiagem caprichada e 'tacones altos' brancos!

Fomos os arroz da festa! Chegamos e a anfitriã ainda estava passando aspirador na casa.... :-) Ajudamos um pouquinho, papeamos um pouquinho e ficamos encantados com a decoração no quintal, com tendas e mesinhas ao lado da piscina, tudo super bonitinho, com enfeites hawaianescos por todos os cantos. Logo apareceu um D.J. de bigodinho, que colocou o som pra rolar na caixa - 'suave, suave, besa me suave..' cantava a sensação latina do momento - Elvis Crespo (sim, ele é porto-riquenho, mas não é o Ricky Martin!!). Comemos nachos com salsa 'picantíssima' e tomamos refrescos e margaritas geladíssimas!

Bem mais tarde chegou a aniversariante, Bertha, que fazia 40 anos. Todos se amarfanharam na garagem pra gritar 'sorpresa!!". Foi tudo muito bem planejado. A Bertha ficou chocada, chorou, abraçou todo mundo, emocionou-se.... Até eu fiquei com lágrimas nos olhos, de tão emocional que foi a surpresa. E fiquei parada lá, sem saber nem mesmo o que dizer, porque nem conhecia a Bertha, nem mais ninguém fora as irmãs Munoz.... Uma perfeita 'bicona'! E nem tava de roupa hawaiiana pra ajudar a disfarçar... Dei bandeirona! :-)

Com a Bertha recuperada da emoção, fizemos a fila pra comida. Muita comida.... diversas saladas, vários tipos de arroz, uns frangões e carne assada. Pão pra acompanhar. E mais salsa picante. Comemos, comemos, bebemos, bebemos, conversamos muito e até elogiaram o meu Portunhol.... :-) Eita gente simpática!

São todos uma grande família. é meio assim como a gente. Todos se conhecem, são comadres, cunhados, primos, amigos de infância. Como nós moramos sozinhos, desconectados dessa coisa familiar já faz anos, estar nesses ambientes me faz sentir muito confortável. E com um pouco de inveja também, pois os mexicanos imigram, trazem o avoilo e a avoila, as tias e tios, os vizinhos, daí se agrupam e vivem felizes no estrangeiro sem sentirem-se estrangeiros....

Depois de muito comer e 'chismear', rimos com a farra da piñata, aplaudimos a Bertha abrir os 'regalos', cantamos 'feliz cumpleaños', comemos 'pastel' com flan, nos despedimos de todos com muitos abraços e dizeres de 'muchas gracias!' e fomos embora, comentando de tudo e todos! Eu ri muito, olhei o jeitinho de todos, prestei muito atenção nas conversas e tive um dia muito bom! Riquíssimo e suavissimo!! Gracias a mia amable companera, Rosalba!

besos, besos!


*Gabriel's Mother's Highway Ballad #17 Blues

Davis, 27 de Abril de 1999.

Hoje foi aniversário do meu filhotinho único, o Gabriel.
Ele fez 17 anos! :-)

Ontem eu perguntei pra ele:
- O que você quer fazer amanhã?
Ele respondeu:
- Nada especial....
E eu quis saber:
- O que você quer ganhar de presente?
Ele disse:
- Qualquer coisa... uns pares de cueca... :-)

Hoje eu acordei e pensei nele (que já tinha ido pra escola) e lembrei do espanto que senti no dia que ele nasceu. Primeiro porque minha mãe disse que a dor do parto era uma 'cólica menstrual' e NÃO era! Me assustei realmente com a dor e, imatura, entrei em pânico. Por isso dei um baile na maternidade, chutando e mijando nas enfermeiras. O Uriel chorando no corredor, amparado pela minha mãe e minha sogra. Foi um show, com direito a agarrar a minha médica pelos colarinhos e berrar 'QUERO ANESTESIA!!!!'..... A anestesista estava vindo.. não chegou.. foi assim no dia 27 de abril de 1982.

Nunca tive nenhuma festa surpresa ou algo feito para mim, mas sempre fiz pelos outros (o que me dá um prazer imenso!). Quando o Gabriel era pequeno eu entrava no quarto dele à noite e punha faixas nas paredes, balões, presentes ao pé da cama. Quando ele acordava, eu ouvia os gritos de alegria dele, do meu quarto!!! :-) E hoje fui fazer o ritual da comemoração. Na minha hora do almoço corri ao supermercado aqui pertinho e fui comprando tudo que via pela frente: um cheescake, uma sacolinha do piu-piu que enchi de todo tipo de barras de chocolate, confetes, serpentinas, um cata-vento, velas (numero 1 e 7!), batata frita com sabores, cheetos, balões coloridos, um cartão pra colocar dinheiro dentro.... E corri pra casa pra preparar a mesa! Toalha nova, tudo bonitinho, decorado, bilhetes pela mesa ('vovó e vovô vão ligar às 4h', 'tia Le ligou de manhã', 'tio Carlos (pão-duro) mandou uma msg'...), o cheesecake com as velas, os chips em vasilhas de vidro, Miles Davis tocando, uma foto Polaroid da mesa e fui trabalhar.

Às 4h pensei nele, na cara dele com sorrisinho irônico vendo a 'surpresa'! Pensei nele com aquele amor que só coração de mãe sabe como é... Ria de boba lá na escola! Cheguei em casa às 6h e ele tava jogadão no sofá vendo TV. Coisa inédita porque ele NUNCA vê TV ( A placa de vídeo do computer dele pifou... ).

Perguntei:
- Gostou da festa??
Ele disse:
- Achei meio 'baiano'.. :-) Legal sua atitude, mas não precisava....

Fomos comer num restaurante mexicano que ele gosta. Tiramos fotos de Polaroid. Na volta quis que ele soprasse as velinhas!
Ficamos comemorados! Gabriel agora tem dez e sete anos!!! :-)